Pressionar um interruptor pode ser uma das coisas mais comuns que fazemos hoje. Mas nem sempre foi assim. Os moradores de uma antiga Nova Friburgo precisaram esperar a chegada de um visionário alemão e, depois, se juntar em protesto.
Foi um importante momento para que, na época, a pacata cidade revolucionasse seu modo de viver. 110 anos depois, esse episódio histórico ganha uma homenagem no lugar em que tudo começou.
História
Com a presença do Imperador Dom Pedro II, a cidade de Campos dos Goytacazes foi a primeira da América Latina a eletrificar a iluminação pública, em 1881. No ano seguinte foi a cidade do Rio de Janeiro. Alguns anos mais tarde, foi a vez de Juiz de Fora inaugurar a primeira usina hidrelétrica do país.
O pequeno grande invento do estadunidense Thomas Edison passou a iluminar diversas cidades no Brasil. Nova Friburgo, porém, se via parada no tempo.
Assim que o sol se punha por trás das majestosas montanhas, os friburguenses acendiam velas, lamparinas e candeeiros. Mas eles queriam mais! Atendendo às reclamações da população, a Câmara Municipal criou um serviço de iluminação pública, começando com 80 lampiões espalhados pela cidade.
A promessa de renovar e expandir a iluminação foi frustrada diversas vezes. Contratos e editais que eram firmados não iam para frente. Foram anos de expectativas até chegarmos a 1911.
Trazido por Maximilian Falck, o comerciante e industrial alemão Peter Julius Ferdinand Arp chega à Nova Friburgo e se encanta pela cidade.
Arp chegou ao Brasil em 1881, com 23 anos. Aos 37, era um famoso empresário e tinha negócios no Rio de Janeiro e em Santa Catarina. Ele estava importando máquinas para instalar uma indústria em Santa Catarina, mas vendo um grande potencial no território friburguense entrou em negociação com o Coronel Costa, responsável pela construção da usina que iria fornecer a energia elétrica na cidade.
O alemão se dispôs desistir do Sul do Brasil e a instalar a tal indústria aqui em Nova Friburgo, mas a transferência de concessão foi barrada por interesses políticos da época e a Câmara foi protelando a decisão.
A Noite do Quebra-Lampiões
Cansados de tanta espera, os friburguenses, apoiando Arp, se reuniram na Praça 15 de Novembro (atual Praça Getúlio Vargas) e caminharam em direção à Câmara. Era 17 de maio de 1911. Sem respostas dos parlamentares, a população saiu quebrando todos os lampiões presentes na Rua General Argolo (atual Av. Alberto Braune) e depois quebraram toda a sede da Câmara.
E foi assim que da escuridão, finalmente, se fez a luz. O episódio ficou conhecido como “A Noite do Quebra-Lampiões”.
Em 20 de junho de 1911, a Câmara (representando o Executivo, já que o cargo de prefeito só foi criado em 1916) autorizou a transferência da concessão para Julius Arp dando início à Companhia de Eletricidade. Poucos dias depois, a luz elétrica iluminou uma Nova Friburgo.
Assim foi criada e viabilizada a Fábrica de Rendas. E com ela uma nova era! A atuação de Julius Arp seguiu na cidade, incentivando o surgimento de outras fábricas e fornecendo um desenvolvimento não só no setor industrial, mas também no social e cultural.
Uma homenagem em forma de arte
Para resgatar esse importante momento da evolução e transformação friburguense, o Espaço Arp homenageia essa parte histórica no local em que tudo começou: na antiga Fábrica de Rendas, atual complexo multiuso.
O mural fica na parede de um dos prédios e tem aproximadamente 335m². Tons de marrom e preto formam o mega grafite que eterniza a história da “Noite do Quebra-Lampiões”, feito pelo artista Robson Sark.
A arte já está pronta, mas será inaugurada oficialmente no lançamento do projeto “Arp de Portas Abertas”. A iniciativa acontece no dia 2 de outubro.
Isso prova que quando a população reivindica seus direitos de modo firme, as autoridades ficam sem saída, a não ser atender o desejo dela. Grande exemplo pro Brasil de 2021!