Luz, câmera, história! O cinema em Nova Friburgo

Seja para lazer, fonte de entretenimento, cultura, conhecimento… o Cinema é uma das artes mais presentes na vida das pessoas. Por aqui, é parte significativa do crescimento e desenvolvimento da cidade.

O município era repleto de cinemas de rua e já se vão mais de 100 anos de história. Reunimos esses acontecimentos e fizemos um resumo desse “filme friburguense”. Então relaxa na poltrona, pega uma pipoca e descubra a história do cinema em Nova Friburgo.

Um cinema na antiga Praça XV de novembro

Os primeiros registros nos levam a 1912. Neste ano, inaugurava o Cinema Leal, fundado pelo português Francisco Leal. Era um prédio de madeira em estilo mourisco que ficava no final da Praça XV de novembro (atual Praça Getúlio Vargas) bem no local que hoje é a Estação Livre.

Transformou-se anos depois no Cine-teatro Leal, em 1930, depois que as instalações foram transferidas para o antigo Teatro Dona Eugênia. O teatro é de 19 de fevereiro de 1895. Isso mesmo! E foi palco para o primeiro concerto do maestro Heitor Villa-Lobos.

As pessoas no interior do Cine-teatro Leal. Foto: Acervo Janaína Botelho

Na mesma época do Cinema Leal surgiram os: Cinema São João, Cinema Éden, Ideal Cinema, Cinema Glória, Cine Nacional e Cinema Odeon.

Dos tempos de glória aos tempos dourados

O Cinema Glória, que funcionava na Praça Dermeval Barbosa Moreira, viu suas atividades se encerrarem após um incêndio o atingir no final da década de 1920. A sétima arte se refez nas cinzas. No local, ressurgiu o Cinema Eldorado, quase 20 anos depois.

Foto: Fundação Dom João VI

O Eldorado foi um marco da história friburguense. Não só pelos filmes, mas por ser um local de encontro de amigos, flertes, namoros e entretenimento no dia a dia da cidade.

Na sessão das 20h, a alta sociedade se reunia e o tornava um verdadeiro tapete vermelho de Hollywood. As mulheres usavam vestidos de veludo, colares de pérola e acessórios para se esquentar do rigoroso inverno. Os homens colocavam terno e tudo, com chapéus e um verdadeiro estilo para comparecer à altura na ocasião.

Foi referência para diversas gerações e até hoje é um dos locais mais citados pelos mais velhos quando perguntamos sobre os anos dos cinemas de rua do município.

Sua charmosa bomboniere era cercada por bancos de espera, que testemunharam essas mais de três décadas de funcionamento. Infelizmente o Eldorado fechou em 1976.  

O Cinema Eldorado ficava aqui, onde está o banco

O Marabá

Este é outro muito citado nos registros. O Marabá era um cinema criado por oito amigos, que se tornaram sócios. Foi no dia 28 de janeiro de 1950 que a ideia virou realidade.

Localizado na Rua Leuenroth, nº 29, no início precisou se contentar com fitas velhas ou filmes não tão populares na época, já que o dono do Eldorado tinha contratos de exclusividade com as grandes companhias cinematográficas.

Mas a temporada de poucos filmes ficou para trás rapidinho quando também surgiu para o Marabá a oportunidade de exibir obras de destaque.

Seguiu assim até 1986, quando foi vendido para o Sr. Antônio Moretti que ali instalou sua casa comercial, a Mac-Still. Poucos anos depois foi vendido novamente. O prédio foi demolido para a construção do Edifício Antônio Carestiato.

Edifício Antônio Carestiato

O boom dos cinemas e o início do fim

O que tem de farmácia hoje na cidade é o que tinha de cinema antigamente. Brincadeiras à parte, as salas de exibição se espalharam pelo Centro e invadiram também os bairros e distritos.

Em Olaria, o Cine São Clemente (1950). No Cônego, o Cine Sant’Anna (1955).

No distrito de Amparo, o Cine Theatro Almeida. Esse é o único citado que permanece com a sua fachada o mais próximo da original.

O prédio pode até estar fechado e lidando com burocracias e a ação do tempo, mas ainda é um dos pontos mais visitados de Amparo, sendo sempre registrado por quem visita a localidade.

Foto: Stephanie Waknin

Voltando ao centro da cidade, surgiam os Cine São José (1963) e o Cine São Luiz (1967). O São José foi o último cinema de rua do município, fechando suas portas em 1994. Ficava na galeria de mesmo nome, na Avenida Alberto Braune.

Com o surgimento da televisão, aos poucos o cinema foi perdendo seu protagonismo. Depois vieram as locadoras. Os custos ficaram cada vez mais altos e o final da história não conseguiu ser outro.

Do fotograma ao 3D

Apenas em 1998 o friburguense pôde retornar à uma sala de exibição. Com a inauguração do Friburgo Shopping, em 1997, a cidade passou a contar com um moderno cinema, na época do grupo Severiano Ribeiro (atual Kinoplex, no Brasil).

Em 2014 é a vez do Cadima Shopping inaugurar o seu. A rede Cine Show é a responsável pelo cinema recém-lançado, e já tinha assumido a gestão das salas do Friburgo Shopping poucos anos antes.

Foto: Carlos Mafort

Hoje, são dois cinemas, com seis salas de exibição no total (3 em cada shopping citado). Locais com projeção, imagem e som digital e longas disponíveis no formato 3D.

Tudo muito diferente das cadeiras de madeira, da projeção em fotograma, dos filmes em formatos mais curtos e até mesmo em preto e branco.

Nos distritos, Lumiar tem seu Cineclube. As atividades começaram em 24 de fevereiro de 2008 e desde então mantêm suas atividades semanais ininterruptas. Na sua apresentação diz que “tem por objetivo o empoderamento da cidadania, a documentação e o registro da memória local, a valorização das identidades culturais da região e a democratização ao acesso à cultura e as artes em nossa comunidade”.

Cineclube Lumiar no seu aniversário em 2017. Foto: Divulgação

Ainda em Lumiar e em São Pedro da Serra, o Lumière – Loucos por Cinema também democratiza o acesso da população ao audiovisual. Foi fundado em 11 de junho de 2016, na Estalagem Café em Lumiar. As exibições acontecem na Praça Levy Brust. Durante a pandemia, as exibições acontecem também online.

Exibição na Praça da Euterpe Lumiarense. Foto: Divulgação

*Parte histórica obtida nos registros das historiadoras Janaína Botelho e Leyla Lopes e no acervo do jornal A Voz da Serra.

2 comentários em “Luz, câmera, história! O cinema em Nova Friburgo”

  1. Na verdade, os primórdios do cinema em Nova Friburgo remontam a 1898. Apenas três anos após os irmãos Lumiére promoverem a primeira seção de cinema no mundo (Lyon, 28 de dezembro de 1895, no Grand Café Paris, Boulevard dês Capucines). O jornal “A Sentinela”, de 10 de abril de 1898 registrava: “No conhecido estabelecimento Casino Friburguense acha-se instalado o belíssimo divertimento, o “animatographo”, pela primeira vez visto nesta localidade, aonde constitui uma novidade do mais vivo atrativo”.
    No ano seguinte, o mesmo “A Sentinela”, de 10 de Setembro de 1899, noticiava a estreia do “Cinematographo de Edison, no Theatro D. Eugenia desta cidade, no qual a empresa W. Bockert Cia mostrou a última concepção daquele grande eletricista.

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